Tema Semanal: A luta do luto!
Como expressar, no mundo anônimo e coisificado sua dor, pessoal e intransferível? Principalmente quando não podemos chorar ou expressar nossos sentimentos, sem sermos diagnosticados e rotulados como “deprimidos” ou “depressivos”? Mas como não estarmos deprimidos diante da depressão de um mundo em que não se pode, adequadamente, vivenciar o luto pela perda de um ente querido? Que não pode ser velado e dele os familiares, os parentes, os amigos não puderam, em um sepultamento, despedir-se?

O que apenas resta, senão chorar? Freud, em Luto e Melancolia, refere: “Embora o luto envolva graves afastamentos daquilo que constitui uma atitude normal para com a vida, jamais nos ocorre considerá-lo como uma condição patológica e submetê-lo a tratamento médico” (Freud, 1920.p, 249). Ou seja, o enlutamento é vivência, não apenas normal, mas imprescindível diante de uma perda.
Processo lento e doloroso que tem como característica uma tristeza sem fim que parece dilacerar o peito. Desde Freud se defende, diante da perda, o direito ao pranto individual, familiar, coletivo – por quanto tempo necessário for.
Cada pessoa possui seu tempo próprio para elaboração ou aceitação de uma perda – no que, nos rituais de adeus “Meus Pêsames, Meus Sentimentos” muito auxiliam alguém nos rituais de “sepultamento de seu morto querido dentro de si”. Hoje, porém, esquecidos os ensinamentos de Freud, o luto é quantificado – “Quanto chora? De manhã, de tarde, de noite? E chora há quantos dias?” Se você não chora, estar mal!
Ansiedade substitutiva, talvez? Quem sabe um ansiolítico? Se você chora o que se supõe seja “demais”, um antidepressivo com certeza lhe faria bem! Isso não bastasse, existe sempre alguém a lhe dizer “Chore não… A vida é assim mesmo! Seja forte!
Temos que continuar lutando…!” Aonde foi o ombro amigo – que ajuda a chorar? Ou o lenço fraterno que, acolhendo lágrimas, afirma “Chore, sim…! É necessário chorar…!”
Marleide Cilene de Oliveira (Psicóloga)
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